Viewing Room

Mulheres: 55 anos da Ipanema

O ano era 1965. Tomie Ohtake (1913-2015) ainda era uma jovem artista, apesar dos 51 anos de idade. Pintava ferozmente em seu ateliê, em São Paulo, e lutava por um lugar ao sol da cena artística tropical, sol este que tanto apareceu em suas dezenas de pinceladas nos anos seguintes, nas mais diferentes cores e formas. No Rio, a cena artística fervilhava e um jovem empreendedor, apaixonado pelas artes e por seu potencial de mercado, voltou seu olhar afiado para alguns nomes que pareciam despontar. Assim, Luiz Sève conheceu Tomie e decidiu junto ao colega nipo-brasileiro Manabu Mabe (1924-1997) que as potentes pinturas da artista integrassem aquela que seria a primeira exposição da Galeria Ipanema, então chamada de Galeria do Hotel Copacabana Palace. O sucesso foi absoluto.

Era um período de grande repressão, mas também de forte criação. Ninguém poderia prever os anos que se seguiriam ­­– e Luiz Sève tampouco sabia que o espaço artístico que nascia ali, naquele momento turbulento da história, sobreviveria com louvor e completaria hoje 55 anos de existência. Trajetória árdua, que se mistura à de inúmeras artistas, mulheres de grande projeção artística como Tomie Ohtake que, desde o início, contemplaram as apostas do marchand.

Depois dela, traços potentes e autorais pontuaram as exposições desenhadas por Sève, entre elas, a icônica “Algumas Mulheres”, mostra coordenada por Paulo Fernandes, em 1987, na qual reunia novamente a produção de Tomie, agora ao lado de Lygia Clark, Lygia Pape, Mira Schendel e Amelia Toledo. O quinteto, cada qual revolucionária em seu meio de atuação artístico, volta a ter sua produção reunida em “Mulheres – 55 anos da Ipanema”, mostra que dá o pontapé inicial das comemorações de mais de meio século de existência da galeria. Hoje, tais figuras, tão reconhecíveis na história da arte brasileira, dão as mãos a outras mulheres igualmente fortes, criativas e singulares que integram o acervo da Ipanema e que participam da atual exposição.

O recorte feito para fechar um ano de tantos acontecimentos precisava ser delas. Entretanto, também era necessário abranger não somente os gloriosos anos 60, 70 e 80 de tais produções, mas contemplar as atuais, como as da britânica Sarah Morris e da brasileira Mariana Palma. O encontro de tais nomes no espaço físico e virtual da Galeria de Arte Ipanema mostra o quão plural a mulher artista foi, é e ainda pode ser, habitando não somente um gênero, mas muitos, da abstração ao figurativo, da cor a ausência dela, da tela a inúmeros suportes. Se, como disse Lygia Clark, “através da outra pessoa, o indivíduo pode perceber o seu próprio sentido, conhecer-se a si mesmo”, esta é a exposição para que todos nós possamos de alguma forma reconhecer nossas dores e prazeres através da arte produzida pelas mulheres que passaram pela Ipanema.

Ana Carolina Ralston – Curadora


Carlos Cruz-Díez

A Galeria de Arte Ipanema apresenta o viewing room de Carlos Cruz-Díez (1923 – 2019), um dos mais emblemáticos artistas do movimento cinético e grande estudioso das cores. Entre as obras que compõe a mostra virtual estão criações das importantes séries Physichromie e Induction Chromatique.

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