Ano da exposição: 2014
Carlos Cruz-Díez é considerado o grande nome da arte cinética mundial. Sua proposta artística, uma das mais originais do movimento, posiciona solidamente o tema da cor entre os pensadores contemporâneos.
A carreira artística do Maestro Carlos – um dos últimos pensadores da cor do século XX – tem sido permanentemente marcada por investigação incessante e permanente desenvolvimento de novas propostas. Cada trabalho é, ao mesmo tempo, um resultado e testemunho de uma pesquisa árdua sobre vários aspectos dos fenômenos cromáticos, que estão à procura de soluções eficientes, explorando materiais, formatos e processos. O espectador exerce papel fundamental na obra do artista, criando situações novas e em constante mutação, de modo que sua configuração geral também trabalha uma unidade dinâmica e constante.
A linha rigorosa de investigação que sustenta seu trabalho ao longo de seis décadas pode se resumir à seguinte conclusão: a cor é uma situação evolutiva, uma experiência intimamente ligada ao tempo e espaço.
A Galeria de Arte Ipanema tem o orgulho de apresentar a exposição “Cruz-Díez: Um Olhar Sobre a Cor”, reunindo obras inéditas do maior artista cinético vivo do mundo. E, junto a nosso público, temos muito prazer em comemorar a inauguração de nosso novo endereço em Ipanema.
Esperamos que aproveitem a exposição tanto quanto nós.
Sejam bem-vindos!
Luiz e Luciana Sève
[Minhas ideias sobre a Cor]
Minha obra e minha pesquisa mostraram que a cor não é apenas “a cor das coisas, a cor de um objeto específico ou, simplesmente, a cor de uma forma.”
A cor é uma situação evolucionária que causa impacto nos seres humanos com a mesma força – e até violência – que o frio, o calor, a libido, o som e outros.
A informação e o conhecimento que absorvemos ao longo dos séculos nos impedem de descartar a ideia da “cor artística” – pigmentos numa emulsão aplicada sobre uma superfície ou sobre vidro transparente. Isso significa que a cor sempre foi compreendida e usada como “algo” que acentua a forma; sempre foi usada como uma especificidade da forma.
Em termos gerais, esse conceito não evoluiu; permaneceu estático, levando à eterna associação COR-FORMA: a maçã vermelha… a mesa branca. Essa situação pode ser ilustrada em termos gramaticais dizendo-se que a cor sempre foi o complemento do sujeito que é a forma, de modo que a cor sempre foi vista como uma das características da forma.
No entanto, as definições propostas por Aristóteles (384 A.C. – 322 A.C.); as teorias desenvolvidas por Goethe (1749-1832), Isaac Newton (1643-1727) e Thomas Young (1773-1829); o tratado articulado por Michel-Eugène Chevreul (1786-1889); e a pesquisa feita por Josef Albers (1888-1976) todos confirmam a instabilidade da cor.
Apesar das conclusões tiradas por esses célebres pesquisadores e corroboradas por documentos e provas científicas, essa percepção da cor foi ignorada e é por isso que a abordagem geral à cor não evoluiu. Com poucas exceções, a cor foi usada na arte como um instrumento de permanência e estabilidade, numa indiferença impensada a seu traço mais característico, que é sua mutabilidade essencial.
Eu proponho o conceito de COR AUTÔNOMA, sem especificidades, sem símbolos, ocorrendo como um evento evolucionário no qual nós estamos envolvidos.
Ao longo da minha carreira cromática, eu tentei mostrar a cor como uma SITUAÇÃO FUGIDIA, como uma REALIDADE AUTÔNOMA EM CONSTANTE MUTAÇÃO.
É uma realidade porque os eventos ocorrem no espaço e no tempo real; eles não têm passado ou futuro, existem no presente perpétuo.
É autônoma porque sua expressão não depende de forma, especificidade ou mesmo de um suporte.
Quando essas qualidades forem reconhecidas, uma dialética diferente poderá se materializar entre o observador e a obra de arte, o que abrirá um NOVO CANAL DE COMPREENSÃO.
Os observadores então poderão descobrir sua habilidade de criar e destruir a cor através de seus próprios meios de percepção; e também poderão encontrar sua própria identificação emocional.
Nas minhas obras, a cor aparece e desaparece durante o diálogo com o espaço e o tempo reais. O que também aparece é o fato inegável de que a informação que nós absorvemos e o conhecimento que memorizamos ao longo da vida provavelmente não são verdadeiros… pelo menos até certo ponto.
Graças à cor – quando é abordada através de uma “visão elementar” livre de significados preexistentes – podemos despertar outros mecanismos sensoriais de apreensão que são mais sutis e complexos do que aqueles gravados em nós por nosso condicionamento cultural e a enxurrada de informações que é onipresente na sociedade contemporânea.
Carlos Cruz-Díez, Paris , 1969
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